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Igreja de São Gens de Boelhe
Como prometido é devido,cá estou para vos falar da história de cada igreja e capela da freguesia de Boelhe de Bonelli contribuindo, assim, para a sua divulgação. Iniciarei com a velhinha Igreja Romana de São Gens, por ser a mais antiga, da segunda metade do século XII, e mandada edificar pela Beata Mafalda. Na Reconquista, conforme se conquistava território em poder muçulmano, procedia-se ao seu povoamento e à edificação de um templo para a prática do culto religioso dos colonos, contribuindo para a sua fixação e servindo de um marco efectivo e legítimo da posse da terra pelos cristãos, para a segurança religiosa, para o aumento da sua fé e organização. Esta igreja situa-se entre as águas do rio Tâmega, assim chamado, por nascer na serra do Larouco num lugar chamado Tamaguelos.
Conserva o campanário original e a pia da água benta que vem da Idade Média, relembrando e significando o sentimento religioso e o fortalecimento dos nossos arqui-avós, nas lutas do quinhão do território que nos coube na partilha da Espanha cristã. É uma verdadeira relíquia da arquitectura romana, classificado como o românico mais característico do vale do Tâmega e do Sousa e mesmo do país, não pela sua grandeza física, por se tratar de uma igreja rural, mas pela sua especificidade.
À volta desta igreja os colonos fizeram as terras produzir o pão e a vinha, e em cujo interior os primeiros cristão de Boelhe de Bonelli, puderam pela primeira vez balbuciar ou pronunciar as sua primeiras orações dirigidas ao Céu. A sua rusticidade e obscuridade tem contribuindo para a leveza com que os estudiosos se têm debruçado sobre a sua importância histórica da época templária e da Reconquista. Ferreira Almeida, afirma que se encontra magnificamente integrada numa das paisagens mais tradicionais e numa região das mais disputadas nas margens do rio Tâmega. As Inquirições Afonsinas de 1258, registam que esta igreja pertenceu a Martim Peres, cavaleiro Honrado, e sabe-se que as primeiras igrejas pertenceram ao domínio privado e com o tempo foram sendo doadas aos mosteiros e conventos. Foi igreja paroquial da freguesia vários séculos ,desde meados do século XII até 1 900 data da inauguração da actual igreja paroquial. À situação de ruína da velhinha igreja, juntava-se a exiguidade do espaço interior concebido para um universo de população da segunda metade do século XII, que há muitos e muitos anos já não correspondia minimamente ao aumento demográfico de Boelhe que era de 800 almas em 1 889. O seu interior fazia de cemitério, onde se procedia a enterramentos em campas, sem que o tempo determinado por lei tivesse já decorrido, a que se juntava ainda a falta de arejamento, tudo isto constituía já um problema de saúde pública, para que tivesse uma prática religiosa diária, razão pela qual o governo de Costa Cabral, no século XIX fez sair as leis de saúde que, entre outra coisas obrigava à existência de uma certidão de óbito a quem viesse a falecer e que os enterramentos se fizessem em cemitérios ao ar livre, dando origem à célebre revolta da Maria da Fonte. O local é deslumbrante ,que Pinho Leal e Ferreira de Almeida sugerem que se visite Boelhe, se possível ao fim da tarde. A sua decoração arquitectónica torna-se invejável distribuída por capitéis e cachorros deveras interessante não apenas pelos seu vigor de execução artística, como pelo significado simbólico, cuja decoração apresenta quase motivos vegetais e animais, com os elementos decorativos a divergirem entre as duas fachadas laterais cuja intenção do mestre ainda hoje mal podemos interpretar. Esta igreja é o testemunho do sentimento religioso dos nossos tão distantes antepassados, que deram a vida pela reconquista aos infiéis deste pedacinho de território, cujo valor ultrapassava muito a simples história da humilde população de Boelhe.